Eram os últimos dias do inverno e às 06:00 eu já estava na Estrada Turística do Jaraguá, mas pra minha surpresa ao chegar no “pé do Pico” me surpreendi com a seguinte cena; portões de acesso às torres fechados, uma fogueira acessa em frente aos portões, algumas autoridades, curiosos e guaranis mbya dentro e fora do parque com arcos e flechas em punho. Sem entender nada daquilo chamei um jovem guarani que estava próximo e ele me contou o que estava acontecendo. Tratava-se de uma reivindicação, ele me disse que era um protesto pela posse de suas terras devido a uma ameaça de despejo por parte do Governo do Estado de São Paulo e que eles já tinham virado a noite ali protestando por seus direitos.

 

Diante dessa situação fiquei impossibilitado de cumprir o propósito estabelecido no dia anterior, então resolvi ir até um local próximo dali onde poderia ficar a sós com Deus para orar, ler e meditar. Cerca de duas horas depois voltei ao Parque Estadual do Jaraguá, mas dessa vez fui até a portaria principal e chegando lá me deparei com a mesma cena que tinha visto na entrada que dá acesso às torres, então desci do carro e fui conversar com o guarani que estava guardando a entrada principal do parque.

 

Com o semblante fechado e interagindo com poucas palavras aquele homem seguia conversando comigo sobre os protestos que estavam fazendo, até que perguntei a ele se a cacique Jandira ainda estava naquela aldeia, (conheci a cacique Jandira no início dos anos 2000 quando participei de um trabalho social com alguns irmãos naquela aldeia) pra minha surpresa o guarani com os olhos em lágrimas desarmou o arco e disse-me que a cacique Jandira era sua mãe e que infelizmente ela tinha falecido a poucos anos.

 

Surpreso com o tamanho da coincidência, (vamos chamar assim, mas sabemos que é Deus quem faz isso!) continuamos conversando, agora sobre sua mãe, sua história naquela região do Jaraguá e sobre as pessoas envolvidas naquela ação social que participei no início dos anos 2000. Em determinado momento falei pra ele que lembrava do Mauro tocando violão em uma visita à igreja, então ele me corrigiu e disse que o nome dele é Mário e que ele era seu irmão e, novamente pra minha surpresa esse guarani me disse que o Mário estava com uma pequena igreja na aldeia, uma casa de oração!

Imediatamente ele me falou que eu tinha que visitar o Mário e sua casa de oração, prontamente respondi que sim e que voltaria em outro momento com mais calma, pois a essa altura eu já estava muito animado com tudo aquilo e bem curioso pra conhecer toda essa história de perto. Mas ele insistiu para que eu fosse fazer a visita na mesma hora, falou que era perto, me explicou como fazer e eu fui.